Ridículo

Hoje, por uma razão para aqui pouco relevante, senti-me ridículo e, não sei porquê, resolvi explorar esse sentimento. Não quero fazê-lo por necessidade de o interpretar. Seria ridículo fazê-lo.
O ridículo é intrínseco, não se interpreta; sente-se, não se avalia; aceita-se, não se contesta.
Se se sentirem ridículos não tentem de forma alguma racionalizar esse sentimento, sob pena de não se conseguirem libertar dessa situação.
O ridículo é um sentimentos resultado do espontâneo e do inesperado. É uma situação transitória que existe enquanto não aceite e assimilada. É um subterfúgio do nosso ego para não nos deixar repetir determinados erros. É o preço do amadurecimento que, por não ter sido naturalmente adquirido, teve que ser assim imposto.
É necessário ter-se sido ridículo, para mais tarde realizar que só é ridículo quem na sua existência nunca foi ridículo, ou pelo menos nunca assim se sentiu. Tal como Fernando Pessoa se referia a que todas as cartas de amor são ridículas, mas que só era verdadeiramente ridículo quem nunca escreveu cartas de amor, ridículas.
Quem me dera no tempo em que inocentemente era ridículo sem o saber e, talvez mais importante, sabê-lo mas não me importar, porque era parte da natureza e da idade sê-lo; como tal, não o era. É tudo uma questão de momento.
O ridículo é um sentimento de consequência pouco consequente. É sempre resultado de uma conduta, seja ela moral ou comportamental. Mas é também pouco objectivo o resultado que se tira dele. Toda a vivência é interpretada diferentemente consoante a pessoa que a vive e a observa, e do contexto em que acontece.
O ridículo é universal e desenganem-se se julgam que existe algum momento em que não somos ridículos. Ridículos somos sempre, temos é a noção de, na maior parte dos casos, sermos ridículos em harmonia com a grande maioria. O existir uma comunhão em massa dum mesmo procedimento ridículo permite-nos iludir e considerarmo-nos socialmente bem integrados. A conduta social é apenas um conjunto de atitudes e procedimentos ridículos praticados em conjunto.
Para quem é individualmente ridículo e quiser deixar de o ser, é apenas necessário convencer a maioria que é assim que se procede e serão então todos ridículos em comunhão.

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