"Cadáver adiado que procria"
Tinha este texto escrito já há algum tempo nos rascunhos (5 anos talvez). Não o tinha publicado ainda pelo carácter menos optimista que passa. Apesar disso a mensagem de alerta e chamada de atenção é válida pelo que resolvi retirá-lo dos rascunhos publicá-la agora.
Quando olho à volta, nesta nossa sociedade de vistas curtas, mais acho que o ser humano segue em piloto automático para a sua própria danação.
A maioria de nós entregou-se a um estereotipo de vida em que é suposto estudar, casar, ter filhos, comprar uma casa, comprar um carro melhor que o do vizinho, um televisor maior, uma aparelhagem especialíssima, e tantas outras coisas vãs e supérfulas com que construímos o castelo imaginário à nossa volta, castelo esse que nos "protege" de termos que nos confrontar com as misérias e sofrimentos alheios e nos ajuda a distanciarmo-nos dos constantes atentados à natureza, para os quais contribuímos, como se o nosso "castelo" fosse uma ilha independente, protegida e isenta de responsabilidades de tudo o que se passa à nossa volta.
Poucas são as pessoas que põem em causa o nosso papel aqui, poucos são os que procuram um esclarecimento maior, no que quer que seja que passe do âmbito da família, trabalho ou sustento imediato.
Entristece-me olhar à volta e pensar que ser humano na sua maioria não é mais do que um (como dizia Fernando Pessoa) "... cadáver adiado que procria". Um corpo animado, mobilizado pelo instinto atávico da sobrevivência e perpetuação da espécie, sem se lembrar da capacidade fantástica que tem e que a maioria não usa, de poder contribuir para uma consciência maior e para a elevação dos valores que regem a sociedade.
Onde terá ficado perdido o crescimento pessoal, o desenvolvimento espiritual?
Somos meras peças de uma engrenagem, uma engrenagem chamada sociedade civilizada (supostamente), que se falhar, nos deixa a todos perdidos.
Se tivermos o azar de viver algum holocausto (natural ou provocado pelo homem) que destrua coisas tão simples como a rede eléctrica, o abastecimento de água ou outras infraestruturas. E se nesse holocausto desaparecerem também uma parte dos responsáveis pela criação e manutenção dessas comodidades, a maioria da população voltará a algo próximo ao que foi a idade da pedra, ou pelo menos à era medieval...
A grande maioria da população resume-se a mera utilizadora de comodidades desenvolvidas e inventadas por outros, das quais não percebe nada, nem como se criam nem como funcionam.
Já dependemos de uma estrutura tão complexa que se uma minoria responsável por essa estrutura desaparecer, é o suficiente para a civilização tal como a conhecemos acabar.
Nos últimos 30 anos desta nossa dita civilização, o homem conseguiu pôr este planeta de pernas para o ar!!
Tratamos o mundo como se fosse um logradouro, ou uma latrina privada para usarmos e abusarmos a nosso bel prazer.
A humanidade caminha a passos largos para a usurpação total dos recursos naturais do planeta, do qual depende, com a arrogância de um mentecapto que se julga superior.
A cabal prova de que o homem é tudo menos o ser superior que se julga, é a empáfia estúpida e cega com que se arroga o direito de explorar o planeta e todos os animais que nele vivem, para proveito próprio.
O ser humano está a tornar-se uma praga, um parasita da Terra, e a esquecer-se que esta se expurgou mais do que uma vez dos seus habitantes.
Eu acredito que a Terra, no seu todo, é uma entidade dotada de uma consciência maior. Quando esta achar que o homem ultrapassou os limites, reduzi-lo-á à sua insignificância, com a mesma facilidade com que nós tomamos um desparasitante. O Seu equilíbrio é muito ténue, todos já percebemos isso, e iremos senti-lo cada vez mais... Esquecemo-nos que Ela teve e vai ter ainda milhões de anos para brincar às evoluções, podendo dar-se ao luxo de recomeçar tudo de novo.
Julgo que a Terra, se não se apercebeu ainda, irá perceber rapidamente que o descendente do macaco poderá não ter sido a melhor aposta para criar uma sociedade evoluída e equilibrada... Pergunto-me qual será o próximo animal em que a Terra irá apostar para a próxima tentativa de repovoamento?
NOTA: Recomendo o filme "HOME" disponível gratuitamente na net, que para além de ter uma imagem de fotografia fabulosa (feita pelo Yann Arthus-Bertrand) tem uma mensagem muito importante sobre o impacto do homem na terra:
http://www.youtube.com/watch?v=jqxENMKaeCU
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