"Felicidade"

Perguntem-se onde está a vossa felicidade, aquela a que sempre aspiraram. Perguntem-se quando construíram a outra que têm e o que pensam fazer com ambas.

Feliz é a felicidade que é simplesmente feliz. Aquela que para ser alcançada não exige qualquer sacrifício ou imolação. Será que alguém a conhece? Para se poder ser feliz na felicidade escolhida, é necessário ter o cuidado de nunca se fazer dela uma religião sem altar. O altar é, não só o local nobre do culto para onde se canaliza o maior fervor, mas também o local em que são executados os sacrifícios.
Não percam nunca o vosso altar de vista, pois assim saberão sempre o que procurar, e saberão sempre também o que estão a sacrificar ao longo da vossa vida. Os maiores sacrifícios na nossa passagem pela vida são aqueles que passam despercebidos. Aqueles que só nos apercebermos quando mais tarde lhes sentimos a falta e já não há forma de os recuperar.
Qualquer vislumbre de felicidade resulta quase sempre de uma opção em que algo tem que ser abandonado. A busca da felicidade feliz é uma quimera em que à partida não se sabe o que buscar, em que não se tem a certeza, e em muitos casos, não se tem sequer a esperança, de a alcançar.
Seja por cansaço, incredulidade ou pressa, é enorme a tentação de nos desviarmos do objectivo final e contentarmo-nos com um pequeno prémio de consolação. É como partir para a busca do Santo Graal e, a meio do percurso, contentamo-nos com uma imitação dele, uma qualquer pintura, medíocre ou não, feita por alguém que em sonhos julgou ver a sua imagem.
Não desistam a meio, insistam. Mas se desistirem, sejam pelo menos vocês a pintar a vossa imagem do Santo Graal, não aceitem ou adquiram a imagem por outros pintada, por muito bela ou real que vos possa parecer.
O simples aceitar das imagens da nossa felicidade, concebidas por outros, denota uma falta generalizada de convicções individuais. As nossas convicções individuais são geralmente tão frágeis, que a maioria das pessoas que se afirmam indubitavelmente convictas, são-no geralmente acerca das convicções dos outros, não das suas, ou acerca de assuntos tão generalistas que ninguém pode convictamente provar o contrário.
Qualquer um conhece as incongruências das suas próprias convicções, por isso se socorrem das dos outros, a essas nunca se conhecem as bases que as sustentam e é possível dar o beneficio da dúvida, podendo assim crer piamente em qualquer suposta convicção d’alguém.
É difícil para a maioria dos mortais compreender aqueles que lutam pela felicidade dos outros. Aqueles a quem chamamos os verdadeiros altruístas. Serão eles seres que por falta de coragem para alcançar a sua felicidade, se refugiaram na coragem dos outros? Será que a alcançaram mas perceberam que não vale a pena, que não é tão importante assim, e que o que realmente importa é apenas o motor que nos leva a procurá-la, ajudando assim quem ainda não desistiu? Ou será que terão encontrado aí o seu Santo Graal ? Não me cabe a mim sabê-lo; só eles o saberão. A felicidade de cada um só cada um a poderá conhecer e conquistar; se não desistir, se levar até ao fim as suas crenças, se não temer pequenos sacrifícios e se não ceder perante as convicções de outros.
A nossa intuição sabe sempre onde está a nossa felicidade, o difícil é não hesitar e não ter medo de a seguir.

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