Quotidiano
Estou farto, cheio, saturado!!!
Poderia estar a falar de comida, mas não. Falo antes de vida. Não da vida realmente vivida, mas da vida devida ao quotidiano dos outros, da vida dividida em fragmentos para acudir às necessidades e solicitações de tudo e de todos.
O meu quotidiano não me assusta, assusta-me sim fazer parte do quotidiano dos outros. Quanto mais faço parte do quotidiano dos outros menos tempo tenho para o meu. O quotidiano enquanto meu é inesperado e flexível. Adaptável a mim!
Ninguém consegue ser feliz se não tiver um bocadinho de tempo escondido, a que possa recorrer e roubar pequenos momentos de egoísmo solitário.
Todos lutam pela felicidade da sociedade, mas não se lembram que ela passa pela felicidade individual. Experimentem negar um convite, qualquer que ele seja, dando a justificação de nesse momento preferirem estar sozinhos. Seremos imediatamente apelidados de egoístas, pedantes e anti-sociais, e teremos muita sorte se não nos pretenderem integrar numa terapia de grupo. Nesses grupos em que todos devem ser lindas pessoas, todos muito conscienciosos, todos muito preocupados com os outros, todos muito tudo, todos tanto que não são capazes de ver que a felicidade individual, ficando esquecida, diminui o bem estar geral. Eu que me marimbo para essa aparente e ilusória imagem de bem estar social que nos querem integrar, e egoisticamente me preocupo com o meu bem estar, contribuo muito mais para o bem comum que todos eles.
Tenho pena, mas o meu quotidiano não é público nem está à disposição. Pertence apenas a mim e aos quotidianos daqueles a quem eu quero pertencer. Fora isso terá quando muito momentos sociais, ou melhor, momentos socialmente partilháveis.
Não quero nem pretendo ser nunca um "bibelot" no quotidiano de alguém, uma peça decorativa do seu bem estar.
Não sei quem disse "Parem o mundo que quero sair". Independentemente disso é algo que só pode ser feito com o tempo que pertence à parte do quotidiano que é só nossa. Perguntem-se se têm tempo para escrever um poema. Caso não o tenham, roubem-no, roubem o máximo que conseguirem, e não se preocupem que esse tipo de roubo não é pecado. Quanto mais vivemos, menos tempo conseguimos dedicar a nós, o tempo roubado deixa de o ser aos outros e vai passando a ser roubado a nós próprios.
Arranjem uma arca e vão pondo lá dentro pequenos objectos de pequenos acontecimentos nossos, coisas sem importância, mas que encerram em si lembranças e memórias vossas. Um dia que só façam parte do quotidiano dos outros desenterrem-na, abram-na, e descobrirão algo mais que uma caixa de Pandora, em que nela já só restava a esperança. Descobrirão pedaços concretos do vosso quotidiano, da vossa liberdade.
Poderia estar a falar de comida, mas não. Falo antes de vida. Não da vida realmente vivida, mas da vida devida ao quotidiano dos outros, da vida dividida em fragmentos para acudir às necessidades e solicitações de tudo e de todos.
O meu quotidiano não me assusta, assusta-me sim fazer parte do quotidiano dos outros. Quanto mais faço parte do quotidiano dos outros menos tempo tenho para o meu. O quotidiano enquanto meu é inesperado e flexível. Adaptável a mim!
Ninguém consegue ser feliz se não tiver um bocadinho de tempo escondido, a que possa recorrer e roubar pequenos momentos de egoísmo solitário.
Todos lutam pela felicidade da sociedade, mas não se lembram que ela passa pela felicidade individual. Experimentem negar um convite, qualquer que ele seja, dando a justificação de nesse momento preferirem estar sozinhos. Seremos imediatamente apelidados de egoístas, pedantes e anti-sociais, e teremos muita sorte se não nos pretenderem integrar numa terapia de grupo. Nesses grupos em que todos devem ser lindas pessoas, todos muito conscienciosos, todos muito preocupados com os outros, todos muito tudo, todos tanto que não são capazes de ver que a felicidade individual, ficando esquecida, diminui o bem estar geral. Eu que me marimbo para essa aparente e ilusória imagem de bem estar social que nos querem integrar, e egoisticamente me preocupo com o meu bem estar, contribuo muito mais para o bem comum que todos eles.
Tenho pena, mas o meu quotidiano não é público nem está à disposição. Pertence apenas a mim e aos quotidianos daqueles a quem eu quero pertencer. Fora isso terá quando muito momentos sociais, ou melhor, momentos socialmente partilháveis.
Não quero nem pretendo ser nunca um "bibelot" no quotidiano de alguém, uma peça decorativa do seu bem estar.
Não sei quem disse "Parem o mundo que quero sair". Independentemente disso é algo que só pode ser feito com o tempo que pertence à parte do quotidiano que é só nossa. Perguntem-se se têm tempo para escrever um poema. Caso não o tenham, roubem-no, roubem o máximo que conseguirem, e não se preocupem que esse tipo de roubo não é pecado. Quanto mais vivemos, menos tempo conseguimos dedicar a nós, o tempo roubado deixa de o ser aos outros e vai passando a ser roubado a nós próprios.
Arranjem uma arca e vão pondo lá dentro pequenos objectos de pequenos acontecimentos nossos, coisas sem importância, mas que encerram em si lembranças e memórias vossas. Um dia que só façam parte do quotidiano dos outros desenterrem-na, abram-na, e descobrirão algo mais que uma caixa de Pandora, em que nela já só restava a esperança. Descobrirão pedaços concretos do vosso quotidiano, da vossa liberdade.
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