Em Risco

Estar com a vida em risco, nem que seja por um escasso instante, faz-nos entrar na fronteira da nossa realidade e ficar, sem dar por isso, na fronteira dos nossos valores. Entra-se como que num limbo, onde a intuição se desenvolve com um sexto sentido, funcionando em contínuo onde antes existiam apenas aparições esporádicas e momentâneas.

Após esse momento, por onde quer que passava, avaliava automaticamente os potenciais riscos; dava por mim a controlar trajectórias das pessoas, a corrigir velocidades dos meus passos, para não entrar em círculos de risco.

É incrível como, nessas situações, o sentimento de vazio e solidão deixa espaço livre para o pensamento. É possível isolar momentos, emoções passadas e avaliá-las por si só sem interferências, quer de outros sentimentos à mistura, quer de preocupações presentes que deixamos que enevoem a clareza do pensamento: uns mais recentes e outros mais distantes. Quando o valor da vida é insignificante, qualquer problema que atormente essa mesma vida torna-se igualmente insignificante.

É como tomar um banho mental, como construir arquivos do pensamento onde vamos compactando tudo em pequenas caixas que já só irão ser abertas quando realmente precisarmos delas.

Dizem que perante a morte se vê a vida toda em retrospectiva de poucos segundos. Não é verdade!! Vê-se sim aquilo que ainda não se viveu e que está por fazer. Arranjam-se forças que não sabíamos existirem, e tem-se medo, um medo tremendo por nos apercebermos que afinal somos muito pouco, ou que valemos quase nada.

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