Onde está Deus?

Desde sempre, que me lembro que sou gente, me perguntei quem seria Deus!
Um pai magnânimo, omnipresente e omnipotente diziam-me uns; O ser mais bondoso e compreensivo diziam-me outros; O criador do Universo, que nos fez à sua imagem; Ou ainda o supremo juiz que nos vai mandar para o céu ou para o inferno?
Que raio de ser é esse que é tão bondoso mas que ao mesmo tempo nos faz andar em constante terror de sermos castigados?
Que raio de ser é esse, tão omnipresente e omnipotente, mas que é incapaz de mexer uma palha para impedir a maldade e os horrores que se passam no mundo à nossa volta?

Com base nestas informações tão contraditórias larguei numa busca por esse personagem. Quanto mais procurava mais confuso ficava, sem perceber que não era Deus que me baralhava, era sim a interpretação que dele fazemos nós.

Cada um de nós tem o seu Deus que mais lhe convém, e como as conveniências de cada um são todas diferentes, temos tantas interpretações de Deus quantas as pessoas do mundo. Claro que a interpretação de cada um encaixa dentro da corrente religiosa na qual nasceu e cresceu, mas a tendência mantêm-se: que é adaptá-la ao que nos convém.

Hoje depois de alguns anos de busca de Deus, descobri que sou pequeno e insignificante demais para perceber a dimensão e a beleza de um personagem tão fantástico quanto Ele. Não deixei de fazer a minha imagem dele, como todos os outros, mas pelo menos sei que é apenas a minha interpretação, não a tento generalizar nem impingir ao vizinho do lado.

Julgo que as várias religiões poderão até ter a sua base assente em verdadeiras inspirações divinas. Quem sou eu para contestar instituições com séculos ou mesmo milénios de conhecimento? O problema é que essas informações divinas foram-nos transmitidas por homens: alguns ignorantes, outros obtusos e acredito até que por alguns geniais com alguma centelha divina, mas todos eles, tentaram passaram-nos conhecimentos maiores que eles, conhecimentos que os transcendiam, e que, na sua insignificância, esses homens não conseguiram libertar-se da sua limitada interpretação ao tentarem passar-nos esse conhecimento.
Pelo que consegui perceber, a imagem que eu posso ter recebido de Deus, não é verdadeiramente Deus, mas antes a imagem que todos os homens antes de nós fizeram dele.

Então como poderei encontrar Deus? Se Deus é conhecimento, sabedoria e bondade, como O poderei encontrar se tenho tão pouco de tudo isso.

Há uma história Indu em que Vishnu e Brahma, ao fazerem o homem, quiseram esconder a sabedoria, porque o homem não estava ainda preparado para ela. Vishnu propôs esconder a sabedoria na mais alta das montanhas, ao que Brahma respondeu que não, que um dia o homem iria aí chegar e encontrar a sabedoria antes de estar preparado para ela. Brahma propôs então que deveriam esconder a sabedoria no mais profundo dos oceanos, ao que Vishnu também respondeu que não, que um dia o homem também aí iria chegar e encontrar a sabedoria antes do tempo. Então, após sábia deliberação, decidiram esconder a sabedoria dentro do próprio homem. Ele aí nunca a iria procurar antes de estar preparado.

Acho que a nossa busca por Deus terminará quando O encontrarmos escondido dentro de nós próprios. Podemos procurá-lo por todo o lado, até um dia descobrirmos que ele fez sempre parte de nós, que esteve sempre connosco e que sempre nos envolveu nas mais pequenas coisas, uma pedra, uma planta, um pequeno animal (ou mesmo um grande), nos ventos que nos envolvem, no mar, na Terra, no Sol, na Lua...

Mas só quando O descobrirmos dentro de nós é que vamos ter olhos que nos permitam encontrá-Lo também em tudo aquilo que nos envolve, nas coisas mais simples e banais.

Percebi então que a maldade somos nós, que os horrores somos nós que os fazemos, e que o inferno é apenas um monumento fictício que nós ajudamos a construir, numa obra que nasceu no dia do aparecimento da própria humanidade.
Deve ser por essa reazão que Deus não pode acabar com a maldade e injustiças no mundo. Como qualquer pai digno desse nome Deus não irá eliminar o seu filho, mesmo sendo este a causa dos males do mundo.

Julgo haver mais de Deus, num único riso, sincero e amigo, que em séculos de ensinamentos eclesiásticos!!

Comments

Unknown said…
Grande Fanan!
Que sentido me fizeram as tuas palavras. Parabens.
Continua que estás no caminho certo.

Um grande abraço

Luis Dias da Silva
FM said…
Meu caro amigo, gracias pelo teu comentário!!
Volta e meia dá-me na telha e escrevo mais uma destas!!
Faz uma eternidade que não nos vemos. Temos que combinar um almoço um dia destes. Abraço

Popular posts from this blog

"Copo meio cheio, meio vazio"

O grande impacto dos pequenos gestos

Heróis